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repórter
10 août 2007

Identidade


 Atentando bem, é nesta gente derramada para fora do mercado e que escorre na ladeira lateral, sentada no murete, sentada no chão, nesta gente que parece ser de um outro tempo, não ser daqui, homens de chapéu, mulheres de escuro, lenço preto na cabeça, que propõem humildes couves a quem passa, cebolo, alhos para dispor, semente de alface, pés de tomate, árvores pequeninas para plantar, é nestas mãos gretadas, calosas, grossas como toqueiros, é daqui que ele suspeita derivar, é destes que ele sente ser pertença.

 

 E levado nesta convicção de identidade rodopia com estes corpos velhos, vergados por afazeres chãos, num redemoinho endiabrado por feiras e festanças, bailaricos, pisas, desfolhadas, bruxas, crendices, procissões, milagres. Morre e ressuscita numa dança enlameada sobre as árvores, os campos, as casas, os currais. Com burros, porcos, galinhas, vacas e outras gémeas criaturas. E canta a terra. E louva a terra. E crê na terra.

 

 

 Por instantes.

  E por instantes se deixa ficar quieto, a ruminar. Como um espantalho. Um espantalho. À sombra de uma nuvem de pardais

Augusto Baptista

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