Os bravos
Inopinado,
o espaço sobressalta-se com um grito. Um uivo sem fim, estridente,
cortante. De lés a lés a terra estremece, se cala. Sob a desgraça
que paira no ar.
Nas ruas irrompem homens aflitos, em resposta à chamada raivosa. Percebe-se, nas respirações, no olhar, vontade de acudir. Um, outro, outro, correm, convocados pelo clamor.
A sirena!
Não tarda, labareda a varrer a estrada, dobra a esquina a velha carreta vermelha, sineta a retinir num desassossego metálico. Vai cavalgada por uma quantas figuras em pé, esquissos toscos, enroupando fardas, braços com botas, capacetes de cobre no ar. Às rédeas do cavalo de fogo, mãos incendiadas, desgrenhado, olhos a furar o vidro da frente, naquela vertigem um miúdo, cosido à parede, pressente ir o pai.
E fica inquieto.
Logo a voar carros-tanque, ambulâncias, passam na mesma voragem. Passam jipes, outros carros, como um temporal.
A terra fica gelada, a vê-los passar. Ao volante: o Rodrigo, o Torres, o Moreno, o Afonso, o Mendonça, o…
Augusto Baptista