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repórter
10 août 2007

Dos grilos (2)


Deslurado, por acção do caçador, o músico emerge no terreiro. Tal-qualmente  negra besta a irromper dos curros, vai deter-se no redondel, hastes perscrutadoras. Por desconforto ou apreensão, um frémito de crença natural impelirá o touro para o aconchego do curral, o colo da mãe, a bem dizer. Também o grilo apontará as armações para o oco do lar. Investirá, impetuoso, e, num ápice, irá mergulhar de cabeça na escuridão. Se nada o obstar. Este saber, apreendido desde o homem das cavernas na predação canora, é crucial para o êxito da caçada. Cabe agora ao predador, elucidado, num oportuno e preciso golpe-de-mão, desembaraçar-se da poética arma vegetal – a palheirinha – e, indicador tenso, passar à prosa: travar a fuga, obstruir por acção da falangeta o acesso ao sombrio escape. Com a mesmíssima prosaica fulminância, a presa confirmará o antevisto recolhimento. Na hipótese de o caçador ter alcançado primeiramente o habitáculo, este cerrado, o grilo frustrará intentos furtivos. Acto contínuo, a mão oclusiva liberta a falangeta e, num justo abre-fecha palmar, engole a presa. Tudo rápido, à guisa de vermelhinha. E sem molestar o músico, como a deontologia obriga. Grilo na mão, é chegado o momento crucial: a prova. A raivosa fera, que em tal se transformam pacíficos prisioneiros, usará derradeira arma, demolidor argumento no calor da luta. Com o vigor de suas descomunais mandíbulas desfere metálico golpe no fortim palmar. Dolorosa punhalada na pele, na carne, na tenra mão! Como na vida, em outros episódios, o desfecho da história vai depender da têmpera do pequeno caçador.

Augusto Baptista



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