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16 avril 2007

O Cachecol

Histórias de passagem - O cachecol                                                                                                                                                             

Quando ele chega àquele lugar, uma vaga impressão lhe diz já algum dia por ali ter passado. Descobre breves sinais, um hálito a lembrar-lhe espaço antigo e seu.

Geografia indecisa entre o litoral e o íntimo dos montes, em redor não se ouvem gaivotas, jamais por ali - inquire - se esgueiraram os passos leves dos lobos. Improvável lugar.

Vendo bem, outros bichos são presença rara nas ruas. E as pessoas circulam, quase sempre de carro, por estradas decrépitas. De casa ao emprego, ao mercado, ao café, tudo perto, raramente o fazem a pé.

Estrangulam a entrada do cemitério com trânsito, buzinas. Como se o tempo tivesse ali importância.

No jardim, árvores decapitadas, cicatrizes extensas. Noutras paragens, mutilações e vegetais extermínios anunciam infeliz a gente daquele lugar. Por tal haver consentido.

Da pastelaria frente ao jardim, uma mulher se esvai na manhã.

Cinge a carteira, enrola o cachecol ao pescoço, uma vez, outra vez, outra vez, frenesim a raiar um desespero vermelho, a cor do casaco. Ansioso, ele decide inquirir:

- Desculpe, a senhora vai… vai suicidar-se nesta manhã regelada?

 

Por Augusto Baptista

••

 

‘Ficções – Histórias de passagem’ é a nova secção semanal do jornal ‘A Voz de Azeméis’.

O autor, Augusto Baptista, nasceu em Oliveira de Azeméis. É um criador que reparte as suas ‘criaturas’ pela escrita, pelo desenho e pela fotografia.

Publicou, entre outros livros, ‘Histórias de Coisa Nenhuma e Outras Pequenas Significâncias’, ‘Floripes Negra’, ‘Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos’, ‘O Caçador de Luas’ e, com Francisco Duarte Mangas, ‘O Medo Não Podia Ter Tudo’.

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