Curros Galegos
Todos os anos, com o aproximar do Verão, a Galiza
cumpre o cerimonial festivo da Rapa das
Bestas. Em datas e locais que a tradição fixou, os criadores vão por
recônditas serranias em busca dos seus cavalos, recolhem-nos, agrupam-nos e, aos
poucos — regatos a engrossarem um rio caudaloso — a manada anima-se em corrente
pelos montes, alvoroço de relinchos e galopes, desde o amanhecer.
Pelo fim da manhã, manto irrequieto anunciado por
nuvens de pó, tropel que cresce, se avizinha, a turba desagua no destino.
Correnteza veloz, invade o curro, entre relinchos, gritos. E revolve-se, em
turbilhão. Sem saída.
Munidos de grossos cajados, os criadores entram no
redemoinho, atiçam o sobressalto no cercado. Corpos afogados entre garupas e
dorsos de cavalos a suar, dos homens só se vêem as cabeças. E os braços
esticados, de onde às vezes irrompem, entre mãos, compridas varas, ornadas de
cordame com laço corrediço.
Num afã que dura horas, são apartados animais,
identificados, marcados a fogo com o ferro do dono. E rapam-lhes as crineiras,
aparam-lhes as caudas. Garanhões, éguas e poldros são desparasitados,
devolvidos à serra. E há negócio, compra e venda de cavalos.
No primeiro domingo de Junho de 2001, a NM foi ver a festa. Em Torroña, junto à
fronteira e não longe de Vigo, no cumprimento do ancestral imperativo, os
criadores montaram cerco à serra, arrebanharam no curro centenas de animais.
Entre estes, jóia da coroa, alguns bonitos exemplares do Cavalo Galego do
Monte, raça autóctone — próxima do nosso Garrano, até no perigo de extinção.
Pelas abas do fervedouro, em altaneira segurança, mirones e forasteiros, a ver.
Depois de Torroña, a temporada prolonga-se até o
final de Agosto, 4.º domingo, em Paradanda (Luneda — A Cañiza — Pontevedra).
Mais ou menos antigos, com menos ou mais cavalos, nesta época os curros galegos
oferecem um leque de opções farto e variado. Constante, em todos eles, é o
assombro. Dos homens. E dos bichos.
Texto de
Augusto Baptista
In Notícias Magazine 2002